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domingo, 27 de agosto de 2023

O APRENDIZ DE FEITICEIRO - Adaptação de Nicéas Romeo Zanchett

 .


Autor original: Ludwig Bechstein


A mania de Simão

era ler quanto podia,

até o que não devia: 

contrariando seu patrão

leu o livro da magia.

Mas foi tanta confusão, 

que só quem gosta de ler

saberá a solução. 

.

          Era uma vez um rapaz muito inteligente que se chamava Simão. A coisa de que ele mais gostava e pela qual tinha verdadeira paixão era ler livro. Um dia Simão se deu conta de que já tinha lido todos os livros que encontrara no pequeno lugarejo onde morava. ficou  pensando como conseguir novos livros. Teve, então, a ideia de ir morar numa cidade e procurar emprego numa livraria. Despediu-se dos pais e partiu. 
            
            Chegando à cidade, pôs-se a andar pelas ruas até encontrar uma livraria. O proprietário era um senhor muito estranho que costumava andar com uma coruja no ombro. Mas para Simão a única coisa importante era poder trabalhar no meio dos livros; por isso indagou a homem: 
          - O senhor me aceitaria como empregado na sua loja?


         - Claro, meu caro rapaz. E, como vou lhe ensinar muitas coisas, chame-me de mestre.
         Iniciava-se ali sua grande aventura.

         No dia seguinte, quando Simão se apresentou para o trabalho, o dono da  livraria lhe disse:
         - Par começar , você precisa apenas manter a loja sempre em ordem e bem organizada: espanar os livros e os móveis, varrer o chão, enfim, fazer coisas coisas muito simples.

           - Sim, mestre, farei tudo direitinho... , mas posso ler alguns livros quando terminar o meu trabalho? 

            - Que pedido estranho para um rapaz! - admirou-se o mestre. - Está bem, concordo. Pode ler tudo oque quiser. Mas terá que me prometer que por nenhum motivo, nem por nada no mundo, você vai fiar mexendo em tudo...

            - Está bem, mestre, eu prometo.

            - Que é isso: Você nem nem me deixou acabar de falar. Você pode ler todos os livros, menos aquele livrinho vermelho que  na prateleira de cima. Prometa-me isso e seremos sempre amigos. 

             Simão fez sua promessa de muita boa fé. De fato, durante todo o tempo em que o mestre esteve na lojaa, Simão nem olhou para o livrinho vermelho. Quando o mestre saiu, para ir cuidar de outros negócios, Simão sentiu uma vontade muito grande de ler o livro proibido, nem que fosse só um pouquinho. E aquela vontade foi aumentando e tomando conta de seu pensamento. a tal ponto que ele não conseguia trabalhar direito.

            Cada vez que o Simão olhava o livrinho no alto da prateleira, pensava:
            - Acho que não há mal nenhum em dar uma espiadinha no que está escrito de tão misterioso no tal livro. 
            Mas sempre que pensava assim, a consciência do Simão ficava martelando em sua cabeça:
             - Simão! Simão! Eu sou sua consciência, não se esqueça de que prometeu ao mestre não mexer naquele livrinho vermelho.
            Mas curiosidade não ficou quieta: 
            - Eu sou a curiosidade e estou morrendo por saber o que esta escrito lá. Vamos Simão, coragem, dê só uma olhadinha rápida.

            Os dias passavam e o pobre Simão não sabia o que fazer entre a vontade de obedecer à consciência e manter sua palavra dada a mestre e a intensidade com que a curiosidade tomava conta dele. Era como se as duas estivessem aos gritos: 
           - Seja obediente, Sião, e cumpra sua promessa!
           - Não seja bobo, Simão! Pegue o livro, abra e leia!

          Simão não aguentou mais. A curiosidade venceu. Pegou o livro vermelho e quando viu do que se tratava pôs-se a cantar e pular: 
"O Manual do Mágico Perfeito"...
Por acaso está escrito em árabe, 
ou então pertenceu, pelo jeito, 
a antigo e rico marajá
Desses cuja língua ninguém sabe?
.
Poderei ser mágico, se ler 
estas fórmulas com atenção. 
Que sorte, agora tenho poder
de transformar-me até num dragão: 
um, dois... três, olhem só o que verão!

            Pulou e saltou de alegria até cais no chão. Que beleza! 
            O livrinho  continha a fórmula mágica para se transformar em animal, pessoa ou objeto. O patrão de Simão era um mago e o rapaz achava, agora, que podia se tornar muito poderoso.

            Logo de cara, Simão decidiu que queria ser um bicho que voasse. Assim voltaria para a casa do pai bem de pressa, sem esquecer de levar no bico o livrinho mágico. Escolheu ser uma andorinha, que era um bicho que voava rápido. 

             Num instante Simão sentiu os braços se transformarem em asas. Virou uma andorinha que, sem largar o livrinho do bico, voou da beirada da janela em direção `casa do pai. Imaginem só o espanto do pai quando viu uma andorinha entrar pela porta e pousar em cima do banco e ali diante de seus olhos transformar-se em seu filho Simão.

             - Oi papai! está contente em me ver? 
             -  Não estou entendendo nada, nem sei como você está aqui.  
             - Alegre-se papai, acabaram-se os dias tristes, voltei para torná-lo rico e feliz. 

             - Acho tudo isso muito bom. Mas me dê um pouco de tempo para pôr as ideias em ordem. Por falar nisso, como vamos ficar ricos? 
   
         Simão desceu do banco, abraçou o pai com muito carinho e indagou:
            - O senhor gostaria de ser dono de um boi bonito e gordo para vender no mercado amanhã? 

         - Claro que gostaria, mas ninguém vai me dar um boi assim de presente.

         - Pois aí é que está o segredo - explicou Simão. - Amanhã eu farei uma mágica e me transformo num boi gordo. O senhor me leva ao mercado e me vende. O boi terá um lacinho vermelho amarrado na pata. Depois que o senhor tiver feito o negócio, tire o lacinho da pata do boi e volte para casa. Mas preste muita atenção, papai, não vá esquecer o lacinho. 

             Ora, Simão, que é isso? - respondeu o pai, - Se você é capaz de se transformar num boi gordo, eu também posso não esquecer o lacinho. 


          No dia seguinte o pai foi ao mercado levando consigo um belíssimo boi gordo. Logo apareceram vários compradores que, admirados com aquele magnífico animal,  examinaram-no com muita atenção e concluíram que era mesmo um animal muito saudável e estava em perfeitas condições. 


         Logo um deles perguntou: 
         - Por quanto você vende este boi? 

          - Por um saquinho de moedas de ouro, mas no preço  não está incluído o lacinho vermelho que está amarrado na pata. É que eu tenho muito amor por este lencinho que me traz boas lembranças. 

          E assim o negócio foi logo fechado.

           Meia hora depois, o pai estava de volta à casa muito feliz e satisfeito. contando as moedas de ouro que conseguiu.

             Mas o pobre coitado que tinha comprado o boi e pago tão bom preço por ele coçava a cabeça e não entendia  como o boi podia ter desaparecido. Procurou o  animal por toda a parte e nem sinal do boi. Era como se o bicho tivesse desaparecido no ar. 

             Enquanto isso Simão corria para casa. Estaria muito contente se não fosse a consciência que gritava no seu ouvido: 
              - O que você fez não é nada honesto; sabe muito bem como se chama? Roubo, furto, trapaça. 

             - Deixe de conversa, consciência, o que está feito está feito. 

           Preste bem atenção Simão, coisas assim se pagam mais cedo ou mais tarde. 

           Mas Simão, chegando em casa, foi logo gritando para o pai: 

                     - Que tal, papai, levarmos um belíssimo cavalo sangue puro para vender no mercado? 
          
              No dia seguinte o pai voltou ao mercado levando consigo um lindo cavalo branco e pôs-se a anunciar: 
              - Quem quer comprar um cavalo? Vejam que animal maravilhoso!

              Os compradores comentavam: 
              - Que bonito animal! forte e robusto!
              - Deve ser muito bem alimentado!

             De repente o cavalo começou a manifestar-se inquieto, embora o pai tentasse segurá-lo.



             Isso estava acontecendo porque Simão tinha visto seu patrão aproximar-se. Fiou ali parado e, quanto mais aquele belo animal, mais ele ficava assustado. Simão, sem saber o que fazer, pensava: 
             Nossa! é o mestre que chegou! Ele me reconheceu!

              O mago aproximou-se do pai de Simão e disse: 
             - Estou muito interessado neste cavalo. 



             O pai de Simão logo tentou realizar o negócio: 
            - É um magnífico animal, se comprar vai ficar muito satisfeito. 

            Simão, o cavalo, saltava para todos os lados, o que levou seu pai a justificar: 
            - Hoje ele está um pouco nervoso, mas costumeiramente ele é muito dócil; deve  ser o movimento do mercado. 

               O mago, que estava interessado em Simão e não propriamente no cavalo, indagou: 
              - Quanto quer por ele? 

              - Um saquinho de moedas de ouro. 

              - Fico com ele - disse o mago. 

              -Deixe-me tirar este lacinho vermelho da pata que não está incluído no preço.

            - Pode deixar o lacinho na pata que lhe dou dois saquinhos de moedas, mas deixe o lacinho na pata. 
             Sem poder contestar, o pai de Simão concordou.
             - Está bem, negócio fechado. 

             O pai de Simão tinha concordado porque acho que seu filho, que era muito inteligente, saberia como dar um jeito de voltar à forma humana. Mas estava enganado. Enquanto o cavalo tivesse o lacinho vermelho amarrado na pata, o rapaz não poderia transformar-se. Sabendo disso, Simão tentou fugir de qualquer jeito, mas o mago mandou dois homens forte segurá-lo e ele foi levado à força para o estábulo. 

Banquei foi um desmiolado
 ao fazer tantas bobagens, 
querendo tirar vantagens 
acabei sendo enganado.
.
Era um cavalo virado, 
relincho e não sou capaz de,
outra vez transformado, 
voltar a ser um rapaz.
.
E se o mago me faz
 virar monstro, por magia? 
Não sei como se desfaz
o que fiz por fantasia. .
.
         Simão estava arrependido de ter tentado enganar os outros e pensava:
          - Se eu conseguir escapar daqui, nunca mais farei magia.
           Foi então que um menino entrou no estábulo para vir espiar o cavalo. Simão mostrou-se muito manso e  garoto, perdendo o medo, fez um agrado no pescoço do cavalo. Era a ocasião para se redimir. Simão, batendo com a pata no chão, chamou a atenção para o lacinho vermelho. O garoto entendeu: 
           - Parece que o cavalo quer que eu tire esta fita da pata dele; de estar incomodando-o. 
            Após tirar a fita ficou espantado, pois o cavalo desapareceu e em seu lugar o menino só viu uma andorinha. O pássaro voou e foi embora.


            Quando o mago voltou e soube o que havia acontecido, puxou a barba furioso. Depois se transformou num gavião e saiu voando em perseguição da andorinha. Ao ver o gavião, Simão se deu conta de que aquele gavião, que o perseguia, só podia ser o mago, mesmo porque o gavião estava de óculos. A andorinha fugiu rapidamente, mas o gavião voava mais rápido e estava cada vez mais perto.  Tudo parecia perdido. Nesse instante Simão percebeu que estava voando sobre o jardim do palácio real, onde a princesa estava colhendo flores. 


Teve uma ideia. Pronunciou as palavras magicas, para se transformar, que tinha aprendido no livrinho secreto:
             - Nil, nol, nul, nal, nel, anel. No mesmo instante se transformou num anel. 
            O anel caiu exatamente no colo da princesa, que imediatamente pegou-o admirada. Depois de examina o anel anelzinho, colocou-o no dedo. 


            O mago que vira tudo pensou: 
            - O rapaz é inteligente e arranjou um bom meio de escapar, mas isto não vai ficar assim.
            Em seguida pronunciou as palavras mágicas para transformar-se: 
            - Jivem, jevem, juvem, javem jovem. 
            Após falar, o mago se transformou num jovem senhor.  Mas antes disso estava no ar, feito gavião, e os jovens não têm asas e, por isso, despencou lá das alturas. Entretanto, com sua magia, conseguiu controlar a queda e desceu sobre a grava com suavidade. Foi assim que surgiu, vindo do céu, diante da princesa, que ficou olhando-o no maior espanto. 


                Antes que a princesa pudesse dizer qualquer coisa, o mago, com muita cortesia, resolveu dar uma explicação: 
            - Linda jovem, estou aqui para pedir-lhe o favor de devolver-me um anel que perdi quando me diverti jogando-o ao ar.

              Embora a desculpa fosse fraca, a moça estava muito  surpreendida com aquele homem que descera do céu. Por isso ia entregar o anel sem mais explicações. 
            Antes que a princesa desse o anel ao mago, Simão resolveu transformar-se para poder escapar e disse: 
          -Trão, frão, brão zrão, grão. 
          Imediatamente o anel no dedo  da princesa tornou-se um grão, que o vento carregou para entre duas pedras. 
          O mago viu tudo e não perdeu tempo. Pronunciando a fórmula mágica, - Elo, ilo, olo, ulo, galo. Transformou-se logo num galo. 

              Em seguida o mago tratou de encontrar o grão, que estava nomeio das pedras, com o bico; queria comê-lo o mais rápido possível. Mas antes que o encontrasse, Simão exclamou suas palavras mágicas: - Ebo, abo, ibo, ubo, obo, lobo. E o grão virou um enorme lobo.

         Sem dar tempo ao mago para se transformar  em qualquer outra coisa, o lobo liquidou o galo. 
            Então Simão gritou: 
           - Ao, uo, oo, io eo Eu. 
           E assim recuperou sua forma  humana. Era outra vez um rapaz. 

           Mas Simão aproveitou-se da magia para aparecer com rico trajes. Ajoelhou-se diante da princesa dizendo: 
            - Agradeço de todo o coração por ter-me salvo. pondo o anel em meu dedo. 
           Naquele mesmo instante em que se viram, os dois jovens se enamoraram. Simão pediu a princesa e casamento e a moça concordou. 
             Em seguida os dois noivo queimaram o livrinho mágico, pois não queriam mais saber de encantamento. Casaram-se e viveram felizes pelo resto de suas vidas.


Simão, agora casado.
não quer saber de magoa,
queimou o livro encantado. 
Continua sempre lendo
estórias de fantasia
ou livros educativos
pois tem muitos motivos 
para temer a bruxaria. 



Nicéas Romeo Zanchett 
           

        




            

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