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Autor original: Ludwig Bechstein
A mania de Simão
era ler quanto podia,
até o que não devia:
contrariando seu patrão
leu o livro da magia.
Mas foi tanta confusão,
que só quem gosta de ler
saberá a solução.
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Autor original: Ludwig Bechstein
A mania de Simão
era ler quanto podia,
até o que não devia:
contrariando seu patrão
leu o livro da magia.
Mas foi tanta confusão,
que só quem gosta de ler
saberá a solução.
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Adaptação de Nicéas Romeo Zanchett
- Oh, uma visita! Entre! - disse a velhinha . - Você sabe por ovos? Minha galinha só bota ovos duros como pedra...
- Có, có, có, Como? - protestou a galinha. - Meus ovos são de ouro maciço!
Todas as manhãs a velhinha tentava cozinhar os ovos de ouro e é claro que não conseguia. Por isso jogava-os fora. A galinha se desesperava, mas nada podia fazer: ela queria ovos de verdade, que servissem para comer. O único que não se queixava , naquela cabana, era o gato.
- Só sei miar, e, quando me acariciam o pelo, eu ronrono. Você sabe ronronar? - perguntou o gato ao patinho feio.
..
Certa manhã de dezembro Dona Gansa encontrou uma carta na porta da casa. Estava escrita em um pedaço de casca de árvore, amarrada com uma fita verde feita de pedaços de grama. Dona Gansa ficou tão emocionada que não parava de bater e tremer as asas. Sentada na cadeirinha de balanço, colocou os óculos e abriu o envelope.
A carta estava escrita com letras verde, esquisitas e incertas. Dizia:
- "Querida Dona Gansa. Venha passar o natal comigo e conhecer minha casa nos pântanos. às cinco horas da manhã, voarei até aí para apanhá-la, na véspera de Natal. Esteja pronta para levantar voo comigo. > Sua prima voadora. Gansa selvagem dos pântanos"
- Santo Deus! Só vejo a palavra "voar" nesta carta, disse Dona Gansa, pestanejando.
Depois, levantando-se da cadeirinha de balanço, disse para si mesma:
- Acho que nem sei mais voar. Há muitos anos estou domesticada; por isso, acho que já me esqueci.
Pensou durante algum tempo e, depois, batendo as asas, disse:
- Voar era o que eu mais gostava. Não, não é possível que tenha esquecido.
Naquela tarde, às quatro horas, três patos amigos viriam lanchar com Dona gansa. Até a chegada deles, Dona Gansa estaria ocupada embrulhando os presentes que ia lhes oferecer. Preparou três gravatas para os três amigos gansos, um bonito pente para a Senhora Esquilo pentear seu lindo rabo, e também doces e passas para o amigo porco, além de muitos outros presente para os Senhores Coelhos e outros amigos que também combinaram de vir. Em todos os presentes escreveu: " Só deve ser aberto no dia de Natal".
- Meus amigos virão buscá-los no dia da grande festa da Árvore de Natal que se realizará na cidade dos animais, disse Dona Gansa, mas não estarei presente!
Realmente Dona Gansa já havia resolvido aceitar o convite da prima para passar o Natal nos pântanos.
Era quatro horas da tarde, quando Dona Gansa ouviu uns grasnidos na porta da casa. Os três patos , seus amigos, haviam chegado. Dona Gansa os convidou a entrar.
- Está esfriando muito e o vento sopra forte, lhe disseram eles, ao se encaminharem para junto do fogão. Achamos que pode chover, enquanto aqueciam suas asas.
- Espero que não chova na véspera de Natal. Precisamente às cinco horas irei partir com uma amiga para os pântanos.
- Partir! grasnaram os Três Patos, encarando-a.
- Sim, partirei; passarei o natal com minha prima, Dona Gansa Selvagem que vive nos pântanos. Em seguida ela lhes mostrou o convite.
- Ho, Dona! . A senhora não vai participar da nossa festa de Natal? disseram os três Patos, mostrando-se inconformados.
- Não, lamento muito, mas não posso.
- Vamos sentir muito a sua falta.
- Também terei saudades de todos, disse Dona Gansa, apanhando o bule de chá.
- A Senhora não gostará do modo de vida de sua prima. Provavelmente ela não tem uma casa confortável como esta; dorme nos pântanos, junto do rio.
-É verdade; ela, porém, é minha prima. Nossas mães eram irmãs. Por isso resolvi ir. Será uma Natal diferente.
Os Três Patos tomaram o chá e conversaram mais algum tempo sobre a viagem da amiga, mas, apesar disso, não conseguiram alterar os planos de Dona Gansa. Ela estava determinada a seguir seu plano e partir na v´éspera de Natal.
No dia da partida, Dona Gansa esteve muito ocupada. Amarrou em cada presente um apetitoso cacho de usa. Colocou na maleta que ia levar para a viagem, uma camisola cinza, uma touca branca e uma escova de penas. Varreu a casa e botou tudo em ordem. Depois, calçou os sapatos vermelhos, vestiu o vestido azul, perfumado com alfazema, colocou o xale vermelho e brilhante e,por último, um chapéu enfeitado com ramos de salsa.
Olhou-se ao espelho e disse:
- Estou muito bem vestida. Espero que minha prima fique satisfeita comigo.
Pã, pã, pã... Eram os Três patos que bateram à porta. Vinham despedir-se de Dona Gansa. Rac, rac, rac... Era a Senhora esquilo que chegava; depois apareceram o Sr. Porco, o Sr. Peru e os Srs. Coelhos. Todos estavam emocionados, como se esperassem ver subir um balão ou coisa parecida.
- Cara amiga, A senhora ainda sabe voar? Perguntou a Senhora esquilo.
- Acho que sim, respondeu Dona Gansa.
Em seguida foram todos para o quintal, esperar a chegada de Dona Gansa Selvagem, a prima. O vento soprava forte, carregando as nuvens cinzentas de uma lado para outro.
- Gostaria que minha prima não se demorasse, disse Dona Gansa, apertando o xale em volta do pescoço. Estou sentindo muito frio.
- Gostaria que a senhora desistisse dessa viagem, suspirou o Sr. Esquilo. Nem quero pensar em vê-la voando com este tempo. Não vá!
- Vou sim, disse Dona Gansa, corajosamente.
- Não acredito que a tal prima venha, cochicharam os Três Patos. Já passaram cinco das cinco horas.
Naquele momento ouviu-se um grasnido distante. Logo depois eles avistaram uma gansa selvagem que se aproximava, rapidamente. Voava em direção à chaminé da casa de Dona Gansa.
- Lá está ela! Adeus amigos, disse Dona Gansa, batendo as asas e muito feliz.
Entretanto, embora tentasse, não saiu do lugar que estava.
- Tente outra vez, aconselharam os Três Patos.
Novamente Dona Gansa bateu as asas, bateu as asas, mas não conseguiu voar. Já fazia muito tempo que não se aventurava a esse esforço.
- Tire a roupa, falou uma voz selvagem, lá do alto. Jogue fora a maleta. Você está muito pesada!
Logo se ouviu um barulho parecido com uma gargalhada, uma gargalhada estridente e fria, misturada com o vento.
Dona Gansa obedeceu. Tirou o bonito vestido, o xale, o chapéu e jogou a maleta no chão. Bateu as asas e subiu, fazendo grande barulho.
Lá do alto, atirou os sapatos vermelhos. Um deles, ao cair, bateu no nariz do Sr. Porco que espirrou e disse:
- Adeus Dona Gansa.
- Adeus, disseram todos.
- Adeus, respondia Dona Gansa, à medida que subia voando feliz.
- Lá está Dona Gansa , a caminho do seu sonhado Natal, disseram os Três Patos. Esperamos que ela se divirta muito, acrescentaram eles.
Logo, porém, sentiram um nó na garganta. Já começavam a sentir saudades.
- É melhor levarmos sua roupa para dentro e depois vamos fechar bem sua casa, como nos pediu, e vamos colocar as chaves embaixo do tapete, disseram eles. E continuando: - Vejam! Ela está voando lindamente sobre as copas dos pinheiro. Amanhã haverá muitos presentes para ela na árvore de Natal. Infelizmente não estará aqui para recebê-los. Avisou-nos que os veria quando voltasse.
- Talvez não volte nunca mais, suspirou O Sr. esquilo. Talvez não a vejamos novamente.
- Todos, então, começaram a chorar, sentindo-se tristes justamente na véspera de Natal.
Às sete horas, quando os Três Patos voltavam de uma visita ao Sr. Esquilo, viram uma luz saindo da janela da casa de Dona Gansa.
- O que está acontecendo? Quem teria entrado na casa de Dona Gansa? Todos sabem que ela está fora. Devemos ir até lá, disseram os Três Patos.
Entraram no jardim e espiaram pela janela. Lá estava Dona Gansa vestida, de touca branca, aquecendo as asas no fogão.
Pã, pã, pã... bateram à porta os Três Patos, sofregamente. Estavam tão contentes e emocionados.
- Fõ, fõ, fõ, sorria Dona Gansa quando lhes abriu a porta. - É verdade, voltei, - cochichou ela. Minhas asas estão cansadas. Por favor falem baixo! Minha prima selvagem está aqui. Está na minha cama dormindo. Veio passar o Natal comigo.
- Pensávamos que a senhora fosse passar o Natal na casa dela...
- Só passei duas horas lá, disse Dona Gansa. Foi o bastante. Vocês tinham razão. A casa dela é muito fria. Além disso, frequentemente neva e chove granizo. Pedaços de gelo caem do céu. Hoje o vento estava com tanta força que minhas penas não pararam um só instante. A mais bonita pena do meu rabo foi arrancada por uma rajada de vento! Minha prima tinha algumas amoras verdes, enterradas por perto. Nós as comemos, logo que chegamos.
- " Estas amoras que trouxemos são para nossa consoada (lanche, refeição leve), disse minha prima. Vamos comê-las tão logo ela acorde, e depois levantaremos voo e assim passaremos nosso Natal.
Nesse momento a prima apareceu na sala e disse:
- "Você voa muito mal, minha prima domesticada, precisa sempre praticar o voo. Logo voaremos sobre as nuvens daqueles morros que estão cobertos de neve."
Continuo em breve.
Era uma noite muito quente, no fim do verão, em Floripa, a rainha das fadas, não podia conciliar o sono. Estava mais pálida que de costume e a cada instante chamava sua empregada de serviço de nome Esmeralda.
- Senhora, disse-lhe por fim, Esperança, porque não sai a passear pelos campos a cavalo? O amarelo disco da lua espelha sua luz doce e brilhante pela relva, espalhando sua doce e brilhante claridade como do próprio sol do amanhecer. A atmosfera está suave e propícia; o céu, límpido; e uma briza suave e fresca faz agitar as folhas das árvores.
- Está bem; mas onde iríamos nós - perguntou impaciente a soberana.
- Vamos à floresta dos pinheiros, respondeu Esmeralda. - É um sítio delicioso; e, precisamente hoje, celebra-se lá a grande festa dos ratinhos para a qual há muito estamos convidados.
- Pois sendo assim, vamos lá.
Logo em seguida ouviu-se um levíssimo rumor de asas e em breves momentos Armilinda e outras damas cruzaram invisíveis os espaço e apareceram sentadas em redor de um tronco grosso de pinheiro, recentemente serrado. Mas as fadas se tinham sentado, surgiu sobre a rústica plataforma que formava a pontiaguda superfície, um gnomo, munido de um instrumento musical, misto de violino e bandolim. O gnomo fez uma reverência, brandiu o arco três vezes, marcando um compasso, e preludiou uma sinfonia original, conjunto de rumores e pisadas furtiva sobre a erva, de estalar de madeira queimando, de ruídos de esgravatar e de espirros de ratinhos.
- Mas que música tão esquisita que devia ser essa! - exclamou Armilinda.
- Todos os ruídos tem a sua música , quando se sabe ouvir, diz o livro que nos deu papai no dia dos nossos aniversários.
- O gnomo, com uma voz cortante e indefinível, pôs-se a cantar:
Saiam já das suas tocas
Alegres ratos dos prados
E, ao som da música, aos brados
celebrem em danças loucas
Os prazeres saborosos
Dos queijos, belos, formosos!
Obedecendo a ação misteriosa do canto, começaram a chagar daqui e dacolá, vestidos com trajes azuis, amarelos ou escarlates, numerosos ratinhos, que em breve formaram grande cadeia. De mão dadas e dançando ao compasso da música o gruo dos bailarinos começo a descrever um circulo, passando por diante das fadas e da da rainha, que os contemplavam encantadas e boquiabertas. Pouco depois, a um sinal do que ia em primeiro lugar na fila, entoaram em coro a canção da festa:
Em muito rudes labores
Se passou este verão
Mas os celeiros estão cheios
De rico grão.
Bailem ratinhos
Dos pés nos biquinhos.
Não tenham medo do inverno
Pois bem seguros já estão
As provisões já nos fiam
Muito à mão.
Bilem ratinhos
Dos pés nos biquinhos.
- Sim, - interrompeu Armilinda; mas não contam com os gatos e as ratoeiras, que não os deixarão fazer das suas. Isso acontece com muita pessoas, que só vêem o lado bom das coisas, sem contarem com os inconvenientes... Me interrompeste pela segunda vez. Toma cuidado poque, conforme cominamos, na terceira vez calo-me e ficarás sem saber o final da história.
- Com ia dizendo, os ratos cantavam e a cada novos versos, a dança ia se animando mais, e as voltas sucediam-se com redobrado ardor. Quando depois de longo tempo cessou o canto e o baile os gnomos serviram um banquete em que abundaram confeitos de todas as espécies, tais como frutas e sementes, guloseimas a, fiambres e embriagadoras bebidas do cálice das flores. A princípio só se ouvia o ruído de quebras e triturar os confeitos que eram devorados com avidez pelos bailarinos fatigados e esfomeados; mas, ao passo que o apetite destes se foi saciando, e sobretudo quando as frequentes libações desembaraçaram o caminho para a expansão comunicativa, entabularam-se mil conversas sobre diferentes assuntos. Em breve se formaram numerosos círculos, agrupando-se aos concorrentes segundo as suas idades, afeições e maneiras de sentir. De um lado tratava-se de processos mais eficazes e rápidos para a abertura de galerias subterrâneas, perfuração de paredes, escalada de prateleiras e de obstáculos e ratoeiras; do outro lado, um gruo de damas da aristocracia rateira, expunha e discutia opiniões sobre o valor alimentício de presuntos e conservas; mais além a gente moça falava de modas ou entoava as canções do dia; por toda a parte reinavam a maior animação e regozijo. Entre os ratos vaidosos houve quem se gabasse de ter assistido ao célebre congresso de "Ratópolis" e de ter rebatido o deitado por terra o maldoso projeto de conseguirem uma cascavel para matar o gato do local. Foi muito defendido por alguns, mas venceu a sugestão de "sempre fugir correndo", considerado muito mais prático em acordo com os instintos d raça. Houve também interessantes histórias de proezas e aventuras maroteiras. Uma das ratazanas mais corpulenta e respeitável contou como tinha conseguido entrar num armazém de presuntos e carnes defumadas, onde tão bem passara uma boa parte do ano se fartando do bom e do melhor. Contou que ali criou duas numerosas ninhadas com todo o conforto desejável. Mas um dos ratos mais jovens da família contou que teve a perigosa e imprudente audácia de se agarrar num presunto que estava pendurado no teto e roer a corda; atitude que causou sua queda estrepitosamente sobre um grande pote, atraindo com o ruído os donos do local, que armados de vassouras e varapaus acabaram com toda a sua ninhada, sem que ninguém tivesse podido salvar, a não ser a narradora,graças a um buraco de um cano onde se escondeu a tempo. Outro dos circundantes contou como, numa despensa, tinha encontrado um magnífico queijo de bola, dentro do qual tinha passado uma boa temporada se deliciando com aquela maravilha. Contou que comeu todo o interior do queijo, deixando apenas a parte externa para enganar os donos. Outros participantes da festa também contaram suas histórias enquanto se serviam das sobremesas com os últimos vinhos.
Terminada a farta refeição, reanimou-se a dança, prolongando-se a festa até que a luz ocultou o seu prateado disco por de traz dos longínquos maciços de arvoredo. Imediatamente ouviu-se o clamoroso canto do galo, anunciando a vinda da aurora, que silenciosa avançou pelo Oriente. Os gnomos sumiram-se na entranhas da terra, e desapareceram coo por encanto as fadas, enquanto os ratos se metiam nos seus esconderijos.
E porque é que desapareceram as fadas e os gnomos quando cantou o galo? As fadas tem medo dos galos?
Não se trata disso, é que os gnomos e as fadas retiram-se sempre quando chega a luz do dia.