Total de visualizações de página

terça-feira, 25 de julho de 2023

OS CISNES SELVAGENS - Adaptação de Nicéas Romeo Zanchett



Adaptação de uma belíssima história de H. Cristian Andersen 


Onze filhos tinha um rei

e uma menina formosa, 

num belo palácio dourado.

Mas a madrasta maldosa  

em um cisne encantado 

transformou cada rapaz. 

Pra salvar os seus irmãos ,

vejam o que a menina fez.

                   Num país muito distante, há muito tempo, vivia um rei que tinha onze filhos e uma filha, que se chamava Elisa. 

               Fazia algum tempo que a rainha havia morrido, e o rei sentia-se muito só. Por isso resolveu casar-se novamente e, sem perceber, escolheu para esposa uma feiticeira.

           Mal chegou ao castelo, ela demonstrou não gostar  dos filhos do rei. Era uma mulher muito orgulhosa e queria mandar no castelo sozinha. Para conseguir isso, enviou a Princesa Elisa para uma cabana lá no fim do bosque, e transformou os onze príncipes em cisnes. 



           - Ficarão só com a coroa, como lembrança - disse  a bruxa. - Eu quero, eu  posso, eu ordeno! 

           - Afastem-se! voem para longe, até os confins do reino!

           E assim partiram daquele castelo, onde sempre tinham vivido felizes, os onze príncipes, agora na forma de onze cisnes selvagens.

               A rainha bruxa ficou satisfeita: tinha conseguido o que queria. Agora só restava tranquilizar o velho rei, seu marido. 

           Logo que chegou em casa, o rei perguntou: - Onde estão meus filhos? Faz muito tempo que não os vejo. 

            - Não se preocupe, meu querido senhor. Vossos onze filhos partiram para uma longa viagem de férias. Elisa acompanhou os irmãos. 

            - Será possível? exclamou o rei, incrédulo. - Partiram sem despedir-se de mim? 

         A rainha bruxa insistiu na mentira e o pobre rei acabou acreditando.  Ficou muito triste. Não poderia sequer imaginar que sua querida filha estivesse vivendo sozinha numa peque cabana nas margens  do bosque, e que seus filhos fossem agora onze cisnes.

         Quando Elisa completou quinze anos, decidiu ir à procura dos irmãos, que nunca esquecera. Atravessou o bosque, extensos vales e altíssimas montanhas.

         Um dia, em suas andanças, encontrou na estrada uma velhinha e lhe perguntou:

          - Por acaso a senhor viu onze príncipes a cavalo passarem por aqui?

          - Não, minha bela menina. Mas vi onze cisnes selvagens, cada um com uma coroa de ouro na cabeça. Todas as tardes ele vem voando do mar até aqui. 

          Elisa agradeceu e caminhou até o mar. 

          - Como é belo e grande o mar! exclamou Elisa. - E como devem ser fortes os meus irmãos, para conseguirem atravessá-lo.

             Elisa sentou-se numa pedra e ficou à espera. À tarde, onze cisnes selvagens vieram voando do poente. Quando se aproximaram, Elisa viu que todos tinham uma pequena coroa de ouro na cabeça. Ela conhecia muito bem aquelas coroas. Por isso, chamou-os: 

           - Meus queridos irmãos! Irmãozinhos! Sou eu, Elisa! 

          Os cisnes rodearam Elisa alegremente. Eles também já atinham reconhecido. 

          Quando o sol baixou no horizonte, os cisnes voltaram à forma de príncipes. 

          - O que está acontecendo com vocês? - perguntou Elisa. 

          - Vivemos sob a forma de cisnes durante o dia, mas, ao cair do sol, retornamos à forma humana. Moramos num lago do outro lado  do oceano. Para chegar aqui temos que voar um dia inteiro... Na metade do caminho, pousamos numa rocha no meio das águas, antes que o sol se ponha. Lá passamos a noite sob forma humana, e pela manhã, quando o sol se levanta, alçamos voo novamente.

            Elisa pediu aos irmãos que a levassem com eles. 

           - É muito perigoso! - disse um dos príncipes.

           - É muito difícil! - disse outro. 

            - Mas Elisa é nossa irmãzinha e deve viver conosco! disse outro ainda. 

           Por fim, os príncipes resolveram tecer uma rede com hastes de junco para levar Elisa. Ao raiar do dia seguinte a rede estava pronta. 

            - Daqui a pouco vamos nos transformar  em cisnes - disse um dos príncipes a Elisa. - Não tenha medo, nós somos bastante portes para carregá-la. 

             - Oh, não tenho medo nenhum - respondeu Elisa. - Podem levantar voo. 

        Voar, por sobre o mar, 

numa tarde levada, 

Mas sem se assustar, 

onze cisnes em revoada

se elevam no ar!

.

Tão alto no céu vamos

que o sol quase tocamos, 

lá em baixo os barcos vemos

e os delfins, mas logo à noite 

dormindo descansaremos. 

.

Sobre um pequeno rochedo, 

perdido no imenso mar, 

repousam cheios de medo 

das ondas a ressoar. 

.

Mal desperta a madrugada 

lá vão os cisnes voando, 

a irmã na rede levada, 

o grande mar atravessando...

             - Como vocês sabem voar bem! - exclamou Elisa. - Mas... que é aquilo? Terra Castelos...uma cidade! E bosques, prados pagodes... navios muralhas... Mas este é o reino da fada Morgana!

            De fato: para chegar ao país dos onze cisnes, era preciso atravessar o reino da boa fada Morgana.  Esta fada usava seus poderes mágicos para fazer o bem e ajudar aos necessitados.

              - Onde estou? perguntou Elisa ao pousar no solo. De quem será este maravilhoso castelo?


               - É meu, Elisa. Lembra-se de mim? 

              - Oh!... sim, lembro! É a velhinha do caminho! Como está bela agora!

            - Sou a Fada Morgana. Sei que seu maior desejo é livrar seus onze irmãos do encanto que os transformou em cisnes. 

             - Sim, querida fada... Quero tanto tê-los novamente comigo! - confirmou Elisa. 

             - Posso ajudá-la - disse a fada. - Mas, você precisará trabalhar muito para conseguir o que deseja. 

             - Farei tudo o que me ordenar - disse a menina. 

             Então, escute...

Para desencantar teus irmãos 

onze túnicas farás

com as tuas próprias mãos. 

Não serão de linho ou lã, 

nem com seda as tecerás. 

Como mostro neste sonho, 

ervas do campo colherás. 

E enquanto uma a uma 

fores as roupas fazendo, 

não dirás palavra alguma. 

E assim, sempre calada, 

tecendo terás os poderes

que só uma fada tem.

Onze túnicas farás

 com as tuas próprias mãos. 

E a ninguém nada dirás. 

>>>>>>>>>

                    Elisa acordou em seguida. Levantou depressa e saiu da gruta. 

                   Andou ao redor e encontrou diversas moitas daquela erva que a fada lhe mostrara no sonho. 

                 - Vou começar já o trabalho - pensou ela. - Não importa que demore.... vou tecer as onze túnicas!

                 Elisa passou o dia inteiro colhendo ervas. À tarde, quando s irmãos voltaram, tinha juntado um grande feixe à entrada da gruta.

                 Os príncipes se assustaram ao ver que Elisa não falava.

              O que aconteceu, irmãzinha? Por que você não fala? 

              Elisa respondeu apenas com um gesto. 

              Eles compreenderam que ela queria tecer em silêncio. 

Na manhã seguinte os irmãos partiram novamente. Elisa continuou seu trabalho, até que ouviu um trotar de cavalo cada vez mais próximo. Era o jovem rei daquele país, que estava caçando. 

                O rei dirigiu-se a ela: 

                 - Bela menina, que faz sozinha aqui no bosque? 

>>>>>>>>>>>>>>>>

                Elisa continuou quieta. Lembrava-se das palavras da fada, por isso não flava. 

              O jovem rei, admirando a beleza da menina, pensava: 

                - É tão linda que parece uma princesa! Por que estará sozinha aqui no bosque? É um lugar tão perigoso...

              O rei perguntou a Elisa: 

              - Você quer vir comigo, morar no  meu palácio? 

             Elisa sorriu e nada respondeu. 

O jovem rei, pensando que ela tivesse concordado, ajudou-a a montar em seu cavalo. Depois, galopando, levou-a para seu palácio.  Lá chegando, ordenou às criadas que vestissem Elisa com os trajes mais belos, dizendo que um dia ela seria a rainha. 

           Depois de pronta, o rei chamou Elisa. 

>>>>>>>>>>>>

             - Quero mostrar-lhe uma coisa de que sei que vai gostar. Siga-me.         

             Elisa seguiu o rei através de escadas e corredores ricamente ornamentados, até que chegaram diante de uma porta. 

              - Abra, menina - ordenou o rei. - É uma surpresa para você. 

              Elisa abriu a porta cuidadosamente, e um sorriso de alegria iluminou seu rosto. Lá estava o monte de ervas e a túnica que começava a tecer. O rei falou: 

            - Quando você tiver saudade da gruta onde  morava, poderá vir a esta sala... Aqui poderá tecer. Elisa beijou as mãos do rei, agradecida. 

             Com o correr do tempo, ela se afeiçoou cada vez mais ao seu benfeitor. O rei era muito bom e Elisa sentia não poder revelar-lhe seu segredo. Todas as noites Elisa passava longas horas a tecer. Quando terminou a décima túnica, a erva acabou. Nos jardins do castelo do rei não havia sequer um pé de erva, só flores e mais flores. Elisa tinha que ir buscar erva no campo, longe, muito longe dali.

               Elisa estava muito preocupada porque tinha que terminar de tecer as onze túnicas. Não tinha outro remédio, senão ir em busca da erva mágica necessária. À tardinha saiu do palácio, disfarçada com um manto, e dirigiu-se ao campo. Andou muito, até que encontrou uma moita e pôs-se a colher rapidamente. 

             Justamente nesse momento passaram por ali o conselheiro e o rei, que voltavam de uma viagem. Vendo Elisa, eles ficaram surpresos. 

            - O que faz esta menina aqui , tão longe do castelo real? - comentou o conselheiro. - Está sozinha, sem acompanhantes...  e já é quase noite! 

               O conselheiro e o rei esconderam-se atrás de um muro e ficaram olhando Elisa colher ervas. O conselheiro, que não gostava de Elisa, aproveitou a oportunidade para dizer ao rei: 

               - Muito estranha, essa menina! Sai sozinha, aventurar-se pelo campo, anda pela estrada que mal conhece... para vir colher ervas! Para que tece tanto? Ela não precisa de roupas, pois ganhou muitos e belos trajes. Que será que ela pretende? 

>>>>>>>>>>>>>>

                 Os dois ficaram ali observando e viram Elisa juntar um enorme maço de ervas e depois voltar para o palácio. 

              - Essa jovem não serve para vossa esposa - disse o conselheiro ao rei. - É muito esquisita, não fala... Vai ver que é mesmo muda. Deve ser uma camponesa toda. Não serve para rainha. 

              Chegando ao palácio, o conselheiro continuou a insistir com o rei: 

             - Essa menina deve ser uma bruxa disfarçada. Para que tece essas túnicas? Isso parece feitiçaria!

              O conselheiro tanto falou, que acabou convencendo o rei a prender Elisa num quarto com grades, para que não mais saísse sozinha do palácio.

              - Amanhã mesmo ela deve ser evada de volta para a gruta onde morava! - exigiu o conselheiro. 

                Muito contra sua vontade, o rei concordou. 

               O quarto onde prenderam Elisa ficava na parte mais alta do castelo.

              Na manhã seguinte, quando ela acordou, olhou pela janela e viu um bando de cisnes passar voando...

>>>>>>>>>>>>>>>

                    Acenou-lhes a mão. Mas não os chamou, pois não podia falar. Contudo, um deles a viu e se aproximou, demonstrando sua alegria  em revê-la.

                 Nesse momento chegou o guarda e conduziu Elisa para fora do castelo. 

                Ao sair, Elisa pegou todas as túnicas e levou-as consigo. Passara a noite tecendo, e a última estava quase pronta. Faltava só acabar a manga.

                  O guarda fez Elisa subir numa carreta e o cocheiro conduziu-a através da cidade. Os cisnes, lá do alto, viram Elisa acenar para eles e desceram, rodeando a carreta. 

>>>>>>>>>>>>

                      Ela jogou as túnicas sobre os irmãos e cada um que pousava ao seu lado ia se transformando  em príncipe!

                   Foi uma cena maravilhosa. Os trabalhadores da cidade largaram seu serviço para ver o que estava acontecendo. 

                  - É um prodígio! É um encanto mágico! - diziam todos. 

                O guarda foi imediatamente chamar o rei e o conselheiro, que ficaram também muito admirados com o que viram. Quando todos os cisnes já tinham se transformado em príncipes, Elisa pode falar novamente. Então contou ao rei o que acontecera desde que saíra do palácio de seu pai. 

                - Eu não podia falar, majestade. Agora quero agradecer a bondade com que fui tratada em seu castelo...

              - Oh!, minha querida! Eu sabia que você era uma princesa! Seus irmãos vão ficar morando no meu castelo. Você vai casar-se comigo e será a rainha do meu país!

                 - Eu concordo majestade, e estou muito feliz, mas antes quero ver meu pai e contar-lhe tudo o que aconteceu.

                   O rei concordou e os onze irmãos  e o povo gritavam de alegria - Viva! Viva! Salve o rei! 

               

 Em sinal de regozijo, todos os sinos do reino repicaram alegremente, durante muitas horas. Agora os onze príncipes podiam viver felizes ao lado de sua dedicada irmãzinha.

E o cantar dos sinos

encheu o reino de alegria

com suas canções e hinos. 

Feliz viveu o par que casava

e cada príncipe, logo em seguida, 

Também encontrava 

a princesa de sua vida!

.

Nicéas Romeo Zanchett 


Nenhum comentário:

Postar um comentário