O GATO DE BOTAS
Por C. Perrault
Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett
Numa pequena cidade, um pobre moleiro vivia com seus três filhos. Os únicos bens que possuíam eram o moinho, um burro de carga e um gato.
Quando o pobre homem morreu, o filho mais velho herdou o moinho; o segundo filho herdou o burro; o mais moço ficou com o gato.
Este último não fico nada satisfeito com a divisão da herança e pensava: - Meus irmãos, com o que herdaram, podem trabalhar e ganhar dinheiro; já eu, que posso fazer? Nada me resta a não ser matar o gato para comê-lo. Depois, a única coisa que fosso fazer é esperar e morrer de fome....
Sentou-se num canto da casa, triste e pensativo. De repente ouviu uma vozinha delicada e ficou surpreso quando percebeu que era o seu gato. Dizia assim:
- Não se desespere, meu caro dono; tenha confiança em mim que vou ajudá-lo. Preciso apenas de um alforje (saco fechado nas extremidades) e um par de botas. Depois deixe-me agir livremente e verá oque posso fazer....
O jovem rapaz olhava muito espantado para o gato. Mas, resolveu dar-lhe o alforje e as botas que pedira. O bichano agradeceu-lhe muito, saudou-o com alegria, despediu-se e desapareceu. Foi até um campo onde havia muitas lebres. Conseguiu caçar uma, enfiou-a no alforje e dirigiu-se ao palácio do rei.
Quando chegou ao palácio foi recebido pelos cortesões, que acharam muito engraçado aquele gato de botas, riram-se muito, mas deixaram-no passar.
Ao chegar até o rei, o bichano fez uma reverência e lhe disse:
- Majestade! Aceitai esta lebre. É um presente do meu amo, o marques de Carabás.
- Muito obrigado, gatinho, respondeu o rei. E diga ao seu amo que o presente muto me agradou.
Alguns dias depois o gato caçou duas gordas perdizes e levou-as também ao rei, que ficou muito agradecido.
No dia seguinte, estando o rei a passeio com sua filha, linda como o sol, ouviu alguns gritos que vinham do rio:
- Socorro! Socorro!...
Imediatamente foi ver o que estava acontecendo e lá encontrou o gato de botas, que com as patas e o rabo lhe fazia gestos desesperados e gritava:
- Socorro! Depressa! O marques de Carabás está se afogando...
Realmente o rei viu emergir na água uma cabeça e dois braços.
O ardiloso gato havia dito a seu amo que fosse tomar banho no rio e fingisse que estava se afogando quando o rei passasse com sua filha.
O moço, que já conhecia a esperteza do seu bichano, confiando nele, obedeceu sem nada perguntar.
Por ordem do rei, o suposto marques de Carabás foi retirado do rio pelos seus guardas.
Como estava em trajes menores, o gato começou a gritar:
- Ai! meu pobre amo! Os ladrões lhe roubaram as roupas...
- Isso não é nada! disse o rei. Quero que imediatamente vá um pajem ao palácio e traga roupas, das melhores, para o gentil marques de Carabás!
Assim se fez e pouco depois o jovem apresentou-se ao rei e à sua filha, magnificamente vestido. Era um rapaz muito elegante. A princesa ficou impressionada e dirigiu-lhe o mais doce dos olhares...
Enquanto isso acontecia, o gato tinha seguido sozinho pela estrada.
Lá adiante encontrou uns camponeses ceifando trigo. Disse-lhes energicamente:
- Quando o rei passar por aqui, digam-lhe, sob pena de morte, que estas terras pertencem ao marques de Carabás!
Pouco depois o rei chegou àquele lugar e perguntou aos camponeses:
- Me digam senhores, de quem são estes belos campos trigo?
- São do marques de Carabás, responderam eles prontamente, enquanto olhavam para os verdes e ameaçadores olhos do gato de botas.
O rei admirou aquelas férteis terras e a viçosa plantação de trigo, felicitando o marques de Carabás.
A essa altura o moço já estava aturdido com tanta coisa que estava lhe acontecendo. Mas, mesmo sem compreender bem o que se passava, agradeceu ao rei, com muitas mesuras.
Dando continuidade ao seu plano, o gato adiantou-se na estrada e chegou ao castelo de um feiticeiro.
Enchendo-se de coragem, entrou, apresentou-se ao dono, inclinou-se dizendo ao mesmo tempo:
- Bom dia, senhor mago!
- Bom dia, senhor gato! respondeu o feiticeiro. Que que de mim?
- Posso fazer uma pergunta?
- Como não? Pode perguntar-me qualquer coisa. A tudo sei responder!
- Ouvi dizer que é tão poderoso que pode se transformar em um animal qualquer e, como isso me parece muito extraordinário, eu queria ver com meus próprios olhos!...
- É muito fácil, disse o mágico. Pois vai ser atendido em sua curiosidade.
Dito e feito. Imediatamente transformou-se num leão, a rugir furiosamente. O gato tremia de medo. Mas, por felicidade, o encanto durou pouco e o feiticeiro logo recuperou sua forma humana.
Logo que se refez do susto, o gato disse ao mago:
- Muito bem! Que coisa espantosa! O senhor é mesmo muito poderoso! Porém, parece-me impossível - e é o que dizem - que possas transformar-se num animal pequeno... Por exemplo, um ratinho...
- Impossível? Quem disse tal besteira? Pois verá se posso ou não. e se transformou num pequeno rato.
Então, de um só salto, o gato atirou-se sobre o ratinho e devorou-o sem piedade.
Logo em seguida, saiu correndo do palácio do bruxo e foi ao encontro do seu amo, do rei e da princesa, dizendo-lhes com grandes reverências:
- Majestade! Princesa! Rogo-lhes que visitem o palácio do meu dono, o marques de Carabás!
A essa altura o jovem rapaz já nem sabia mais o que pensar, tais eram as surpresas que seu gato lhe aprontava. Mas ficou na dele, esperando o que iria acontecer em seguida.
O rei entrou no belo palácio do feiticeiro com seu cortejo, e todos ficaram admirados com seu luxo e riqueza.
A princesa, que já estava encantada pelo rapaz, ficou impressionadíssima; lançava-lhe os mais cativantes olhares e só pensava em casar-se com ele. Aproximou-se de seu pai, o rei, dizendo-lhe que ficaria muito feliz se lhe permitisse casar-se com o marques de Carabás. O consentimento foi imediatamente dado com grande alegria.
Poucos dias depois, o casamento realizou-se com muta ponta e grandes festejos.
Na festa, o gato de botas comeu tantos ratos assados que quase morreu de indigestão.
A partir daquele dia, o moço pobre e seu gato, viveram felizes no palácio em companhia do rei, dos príncipes e da princesa, que então era sua esposa.
O moço pobre filho do moleiro, nuca se arrependeu de seguir os conselhos do seu astuto e querido bichano.
Os seus irmãos, que pensaram tê-lo passado para trás, só ficaram sabendo, mais tarde, que estava casado com a princesa.
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Nicéas Romeo Zanchett
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eu tenho esta estoria en disco
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