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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O GATO DE BOTAS - C. Perrault


O GATO DE BOTAS 
Por C. Perrault
Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett 
                     Numa pequena cidade, um pobre moleiro vivia com seus três filhos. Os únicos bens que possuíam eram o moinho, um burro de carga e um gato. 
                     Quando o pobre homem morreu, o filho mais velho herdou o moinho; o segundo filho herdou o burro; o mais moço ficou com o gato. 
                      Este último não fico nada satisfeito com a divisão da herança e pensava: - Meus irmãos, com o que herdaram, podem trabalhar e ganhar dinheiro; já eu, que posso fazer? Nada me resta a não ser matar o gato para comê-lo. Depois, a única coisa que fosso fazer é esperar e morrer de fome.... 

                      Sentou-se num canto da casa, triste e pensativo. De repente ouviu uma vozinha delicada e ficou surpreso quando percebeu que era o seu gato. Dizia assim: 
                      - Não se desespere, meu caro dono; tenha confiança em mim que vou ajudá-lo. Preciso apenas de um alforje (saco fechado nas extremidades) e um par de botas. Depois deixe-me agir livremente e verá oque posso fazer.... 
                      O jovem rapaz olhava muito espantado para o gato. Mas, resolveu dar-lhe o alforje e as botas que pedira. O bichano agradeceu-lhe muito, saudou-o com alegria, despediu-se e desapareceu. Foi até um campo onde havia muitas lebres. Conseguiu caçar uma, enfiou-a no alforje e dirigiu-se ao palácio do rei. 
                     Quando chegou ao palácio foi recebido pelos cortesões, que acharam muito engraçado aquele gato de botas, riram-se muito, mas deixaram-no passar. 
                      Ao chegar até o rei, o bichano fez uma reverência e lhe disse: 

                     - Majestade! Aceitai esta lebre. É um presente do meu amo, o marques de Carabás. 
                     - Muito obrigado, gatinho, respondeu o rei. E diga ao seu amo que o presente muto me agradou. 
                    Alguns dias depois o gato caçou duas gordas perdizes e levou-as também ao rei, que ficou muito agradecido. 
                     No dia seguinte, estando o rei a passeio com sua filha, linda como o sol, ouviu alguns gritos que vinham do rio: 

                      - Socorro! Socorro!... 
                      Imediatamente foi ver o que estava acontecendo e lá encontrou o gato de botas, que com as patas e o rabo lhe fazia gestos desesperados e gritava: 
                     - Socorro! Depressa! O marques  de Carabás está se afogando...
                     Realmente o rei viu emergir na água uma cabeça e dois braços. 
                     O ardiloso gato havia dito a seu amo que fosse tomar banho no rio e fingisse que estava se afogando quando o rei passasse com sua filha. 
                     O moço, que já conhecia a esperteza do seu bichano, confiando nele, obedeceu sem nada perguntar. 
                     Por ordem do rei, o suposto marques de Carabás foi retirado do rio pelos seus guardas. 
                      Como estava em trajes menores, o gato começou a gritar: 
                      - Ai! meu pobre amo! Os ladrões lhe roubaram as roupas... 
                      - Isso não é nada! disse o rei. Quero que imediatamente vá um pajem ao palácio e traga roupas, das melhores, para o gentil marques de Carabás! 

                      Assim se fez e pouco depois o jovem apresentou-se ao rei e à sua filha, magnificamente vestido. Era um rapaz muito elegante. A princesa ficou impressionada e dirigiu-lhe o mais doce dos olhares... 
                      Enquanto isso acontecia, o gato tinha seguido sozinho pela estrada. 
Lá adiante encontrou uns camponeses ceifando trigo. Disse-lhes energicamente: 
                      - Quando o rei passar por aqui, digam-lhe, sob pena de morte, que estas terras pertencem ao marques de Carabás! 

                     Pouco depois o rei chegou àquele lugar e perguntou aos camponeses: 
                     - Me digam senhores, de quem são estes belos campos trigo? 
                     - São do marques de Carabás, responderam eles prontamente, enquanto olhavam para os verdes e ameaçadores olhos do gato de botas. 
                     O rei admirou aquelas férteis terras e a viçosa plantação de trigo, felicitando o marques de Carabás. 
                     A essa altura o moço já estava aturdido com tanta coisa que estava lhe acontecendo. Mas, mesmo sem compreender bem o que se passava, agradeceu ao rei, com muitas mesuras. 
                     Dando continuidade ao seu plano, o gato adiantou-se na estrada e chegou ao castelo de um feiticeiro. 
                     Enchendo-se de coragem, entrou, apresentou-se ao dono, inclinou-se dizendo ao mesmo tempo: 
                     - Bom dia, senhor mago! 
                     - Bom dia, senhor gato! respondeu o feiticeiro. Que que de mim? 
                     - Posso fazer uma pergunta? 
                     - Como não? Pode perguntar-me qualquer coisa. A tudo sei responder! 
                     - Ouvi dizer que é tão poderoso que pode se transformar em um animal qualquer e, como isso me parece muito extraordinário, eu queria ver com meus próprios olhos!... 
                    - É muito fácil, disse o mágico. Pois vai ser atendido em sua curiosidade. 
                    Dito e feito. Imediatamente transformou-se num leão, a rugir furiosamente. O gato tremia de medo. Mas, por felicidade, o encanto durou pouco e o feiticeiro logo recuperou sua forma humana. 
                     Logo que se refez do susto, o gato disse ao mago: 
                     - Muito bem!  Que coisa espantosa! O senhor é mesmo muito poderoso! Porém, parece-me impossível - e é o que dizem - que possas transformar-se num animal pequeno... Por exemplo, um ratinho... 
                     - Impossível? Quem disse tal besteira? Pois verá se posso ou não. e se transformou num pequeno rato. 
                     Então, de um só salto, o gato atirou-se sobre o ratinho e devorou-o sem piedade. 

                     Logo em seguida, saiu correndo do palácio do bruxo e foi ao encontro do seu amo, do rei e da princesa, dizendo-lhes com grandes reverências: 
                     - Majestade! Princesa! Rogo-lhes que visitem o palácio do meu dono, o marques de Carabás! 
                     A essa altura o jovem rapaz já nem sabia mais o que pensar, tais eram as surpresas que seu gato lhe aprontava. Mas ficou na dele, esperando o que iria acontecer em seguida. 
                      O rei entrou no belo palácio do feiticeiro com seu cortejo, e todos ficaram admirados com seu luxo e riqueza. 
                     A princesa, que já estava encantada pelo rapaz, ficou impressionadíssima; lançava-lhe os mais cativantes olhares e só pensava em casar-se com ele. Aproximou-se de seu pai, o rei, dizendo-lhe que ficaria muito feliz se lhe permitisse casar-se com o marques de Carabás. O consentimento foi imediatamente dado com grande alegria. 
                     Poucos dias depois, o casamento realizou-se com muta ponta e grandes festejos. 
                     Na festa, o gato de botas comeu tantos ratos assados que quase morreu de indigestão. 

                     A partir daquele dia, o moço pobre e seu gato, viveram felizes no palácio em companhia do rei, dos príncipes e da princesa, que então era sua esposa. 
                     O moço pobre filho do moleiro, nuca se arrependeu de seguir os conselhos do seu astuto e querido bichano. 
                     Os seus irmãos, que pensaram tê-lo passado para trás, só ficaram sabendo, mais tarde, que estava casado com a princesa. 

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Nicéas Romeo Zanchett 
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