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domingo, 29 de setembro de 2013

O MOLEIRO E SEUS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO


O MOLEIRO E SEUS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
Histórias antigas
                Numa certa ocasião, uma quadrilha de ladrões instalou-se  numa cabana escondida no meio de um matagal. Passaram a assaltar os viajantes que por ali andavam. Isso acontecia a qualquer hora do dia ou da noite. Além disso, invadiam as chácaras e roubavam os lavradores. 
                Uma tarde, em que um moleiro do local tinha ido à cidade fazer compras, os bandidos entraram em sua casa, apoderaram-se de tudo o que lhes interessou e depois, por pura maldade, atearam fogo ao seu moinho. 
                 Ao anoitecer, quando o moleiro voltou, teve a triste surpresa de se encontrar arruinado; mas o que mais o apoquentou foi o fato deles terem levado todas as suas provisões. Ele era um bom homem e não se importava consigo mesmo, mas muito se preocupava com a alimentação do seu burrinho, seu gato, seu cão e seus patinhos. Como vivia só, tinha se afeiçoado àqueles indefesos animais. 
                 Depois de muito pensar, decidiu que seria melhor dar-lhes a liberdade, mesmo que para isso tivesse que perdê-los para sempre. Certamente essa era melhor decisão para não vê-los morrer de fome. 
                 Cheio de dor no coração, chamou-os e disse-lhes: 
                 - Meus queridos amiguinhos, como podem ver, os ladrões levaram-me tudo. Fiquei arruinado e não tenho como sustentá-los. Tu, meu pobre burrinho, ficaste sem palha e milho, e tu meu querido cão, já não tens carne para comer, nem tu, meu pobre gatinho, e também vocês, queridos patinhos, ficaram sem o seu milho preferido. Enfim, não tenho mais nada para dar-lhes de comer.  Por isso terão de ir embora à procura de alguma coisa para não passarem fome. 
                  Os animais ficaram muito tristes, mas não havia outro remédio; tinham que abandonar seu amo e sair pelos campos lutando pela própria sobrevivência. E saíram, caminhando pelas estradas,  matas e campos à procura de abrigo e sustento. 
                 Muito andaram, por vários dias, e por fim chegaram à cabana dos salteadores; ali eles estavam todos sentados em volta de uma grande mesa, fartando-se com os alimentos roubados do bom homem,  que eles tanto amavam. 
                 O cão voltou-se para seus companheiros e disse-lhes baixinho: 
                 - Esta é uma ótima oportunidade de passarmos bem  noite e nos vingarmos desses bandidos. Vocês vão se esconder no meio do mato e façam o maior barulho que puderem. Vamos ver se assim esses ladrões se assustam e fogem. 
                 Todos os animais se meteram por entre o matagal, em volta da cabana, e, de repente, começaram todos a gritar ao mesmo tempo, fazendo lembrar um orquestra muito desafinada. O zurrar do burro, o miar do gato, o agudo ladrar do cão e o terrível grasnar dos patos formavam uma tal algazarra que os ladrões ficaram assombrados. Sem entender o que estava acontecendo, olhavam uns para  os outros cheios de espanto. Então um dos patos voou por cima da mesa e, com as asas, derrubou a vela e apagou a luz. 
                Cheios de terror, no meio daquela escuridão e daqueles horríveis gritos, os ladrões desataram a fugir. 
                Radiante pela vitória, os animais entraram todos na cabana e, como estavam com muita fome, avançaram sobre os alimentos e comeram o que havia restado da ceia; depois foram todos dormir e se recuperar do cansaço.
                 O burro deitou-se ao pé da porta da cabana; o cão foi para debaixo da mesa, sobre a qual o gato se enroscou; e os patos arrumaram algum lugar mais alto onde se sentiram melhor para passar o restante da noite. 
                  Mas os ladrões, assim que recuperaram o ânimo, resolveram ir ver o que tinha acontecido, e o capitão da quadrilha encaminhou-se para a cabana. Viu que tudo estava às escuras, mas no mais completo silêncio e resolveu entrar. 
                  Com o barulho dos seus passos, os animais acordaram sobressaltados. O cão partiu para cima do ladrão e deu-lhe uma terrível dentada na perna. Quando este aproximou-se da mesa foi a vez do gato arranhar-lhe toda a cara, e, ao mesmo tempo, os patos esvoaçaram, dando-lhe muitas e fortes pancadas na cabeça. Já apavorado, o capitão tentou fugir, mas ao passar pela porta, o burro deu-lhe um forte coice que o jogou em cima das ortigas. 
                  Muito dolorido e aterrorizado, o bandido afastou-se correndo e foi contar o ocorrido aos seus comparsas. Disse-lhes que uma quadrilha de criminosos havia se apoderado  da cabana, que seria melhor não mais voltar para lá, sob o risco de morrerem todos. 
                  - Esses bandidos são tão  ferozes, dizia ele, que um deles cravou-me o punhal na perna, outro golpeou minha cabeça com uma afiada navalha, e uns três ou quatro quiseram amarrar-me um laço de pano ao pescoço para enforcar-me. Quando já ia fugindo, um outro deu-me uma paulada nas costas que me jogou longe. Só fiquei vivo por milagre. Parece que o melhor que temos a fazer é irmos embora desse lugar o mais rápido possível. 

                 Apavorados com aquela descrição, os bandidos fugiram às pressas, e nunca mais voltaram. 
                 Quando o dia amanheceu todos despertaram e o cão, que tinha passado o restante da  noite num canto, onde escavara um buraco para melhor se acomodar, viu que havia algo muito estranho debaixo da terra. Escavou mais um pouco e descobriu que se tratava de um grande saco de moedas de ouro; Com a ajuda de todos, conseguiram colocar o saco nas costas do burro e voltaram radiantes para casa. 
                 Ao chegarem encontraram o moleiro ainda triste, mas espantado por vê-los de volta tão rápido. Contaram-lhe tudo o que havia ocorrido. 
                 O bom moleiro ficou radiante, e com o dinheiro trazido pelos seus fieis amigos, pode restaurar seu moinho e voltar a trabalhar, como fazia antes. E todos lá viveram felizes por muitos anos; sempre lembrando alegremente da original aventura que viveram. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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